Caracterização da próstata canina quanto a aspectos envolvidos na evolução para o carcinoma prostático.

O cão é a única espécie, além do homem, em que o câncer de próstata (CP), a neoplasia intraepitelial prostática (PIN) e a hiperplasia prostática benigna (HPB) ocorrem espontaneamente, permitindo dessa forma que se realize estudo comparativo de afecções benignas e malignas da próstata. Acredita-se que a existência de stem cells malignas, localizadas na camada de células basais da próstata, seja um dos fatores responsáveis pelo insucesso da terapia por ablação androgênica que ocorre na maioria dos carcinomas prostáticos avançados. O objetivo deste estudo foi caracterizar a próstata canina quanto a aspectos envolvidos na evolução para o carcinoma prostático, tentando identificar a origem celular e as alterações das lesões pré-neoplásicas. Foram obtidas 44 próstatas na necrópsia. Amostras prostáticas foram fixadas em metacarne, embebidas em parafina e seccionadas a 5µm para a coloração com hematoxilina eosina (HE) e avaliadas em relação à presença de hiperplasia, prostatite, PIN e neoplasia. Além disso, cortes corados em HE representando cada afecção foram utilizados na determinação da área nuclear média por morfometria computadorizada. Cortes histológicos obtidos em lâminas silanizadas foram utilizados na imunoistoquímica para células basais (p63 e 34E-12), conexinas 32 e 43, receptor de andrógeno (AR) e antígeno nuclear de proliferação celular (PCNA). Amostras foram coletadas também em nitrogênio líquido e mantidas a 80o C para a realização do PCR quantitativo em tempo real, para a determinação da expressão do RNAm do AR, e para a realização do Western blot, para a determinação da expressão da conexina 43. As afecções mais freqüentes foram a prostatite e a hiperplasia prostática benigna. Foi observada uma maior porcentagem de células basais e um alto índice proliferativo, como demonstrado pela imunoistoquímica para o PCNA, na neoplasia intraepitelial prostática. Além disso, observou-se nessas lesões marcação nuclear heterogênea para o AR, menor em relação à dos ácinos benignos. Ao contrário do observado na próstata humana, não foi observada expressão das conexinas 32 e 43 na próstata canina (normal ou com PIN). A área nuclear média, obtida pela morfometria computadorizada, foi maior em células epiteliais de ácinos apresentando PIN e/ou neoplasia em relação à de células epiteliais de ácinos benignos. Observou-se expressão variável do RNAm para o AR nas PINs e neoplasias, utilizando-se o PCR em tempo real. Estes achados sugerem que células basais malignas desempenham papel na origem da neoplasia intraepitelial prostática e possuem capacidade de proliferar a despeito da expressão heterogênea do receptor de andrógeno.